Visão da Bacia
Aspectos críticos
As estratégias de ações na região se baseiam numa ética que busca unir o politicamente viável com o socialmente equitativo na gestão de água.
A intervenção humana acelerou dinâmicas naturais e introduziu desequilíbrios ambientais que diminuem a eficiência dos esforços de desenvolvimento, ampliam os problemas sociais, ameaçam em geral sua sustentabilidade ao mesmo tempo em que deterioram e corroem seus recursos físicos e biológicos.
Os aspectos críticos são:
- A variabilidade e a mudança climática: que requerem melhorar o conhecimento e a previsão da disponibilidade hídrica para avaliar as vulnerabilidades dos sistemas e as necessidades de adaptação.
- As inundações e secas: necessidade de identificar zoneamento de áreas de inundação, fortalecimento de redes de monitoramento, programas de alerta de eventos hidrológicos extremos e gestão do risco.
- O desenvolvimento agrícola: impacto dos sedimentos e contaminantes difusos na produção, e a necessidade de incentivos para o uso de práticas sustentáveis.
- A biodiversidade em áreas úmidas e a pesca: monitoramento de zonas úmidas e ecossistemas fluviais, programas para a gestão da pesca e criação de grupos de pesquisa regional.
- O saneamento ambiental das cidades: levando em consideração o desenvolvimento de estratégias regionais para estabelecer um plano integrado de água potável, esgotos, drenagem urbana, resíduos sólidos e contaminação industrial.
- Navegação: estabelecendo uma agenda positiva e acordos internacionais para a regulação de águas de lastro em portos e em vias da região.
Barreiras a serem superadas
Esta Visão integrada da Bacia do Prata passa, necessariamente, pelo reconhecimento do ciclo hidrológico completo e, portanto, de suas relações com os fatores que definem e caracterizam o clima no curto e médio prazo (variabilidade climática) e no longo prazo (mudança climática).
De acordo com a Visão integrada e as análises realizadas com forte envolvimento dos principais atores sociais na Bacia do Prata, os fatores e barreiras a serem superados são os relativos a:
- Marcos legais diversos e desarticulados: cada país possui uma
estrutura jurídica diferente, em geral não são consideradas as interrelações que
existem entre a água, o clima e o solo, não existem regulamentações harmônicas
sobre qualidade de águas e só existe uma fraca coordenação entre as instituições
responsáveis.
- Institucionalidade fraca: o CIC tem claras
atribuições para o planejamento, a coordenação da gestão e o seguimento das ações,
mas é fraco tecnicamente, embora tenha sido fortalecido em seu novo estatuto de
2002. As instituições nacionais atuam sobre os assuntos comuns com prioridade
nacional e com poucas capacidades para verter no CIC as atividades definidas em
seu contexto. Foram identificadas assimetrias nas capacidades institucionais para
a gestão integrada do recurso.
- Falta de uma visão para a gestão integrada dos recursos
hídricos que busque superar os enfoques setoriais e parciais no momento de
resolver os problemas. Falta informação em zonas-chave da Bacia do Prata.
- Mudança no uso do solo: gerou, em parte,
a expansão da fronteira agrícola, o desmatamento, a erosão dos solos, e tem
incidência no clima no âmbito local e efeitos ainda não bem definidos sobre o clima
regional e global.
- Limitações nas tecnologias utilizadas na produção agrícola
e outras, que terminam
em desmatamento, queimadas e emissão de gases de efeito estufa. Aumenta a erosão
de solos e a sedimentação em vias navegáveis e represas e um maior uso de
agroquímicos sem conhecimentos adequados sobre o impacto nas águas.
- Modelos descoordenados de gestão de represas: as represas produzem
energia e regulam a dinâmica hídrica dos rios. Os modelos de gestão de represas
ainda apresentam limitações para a operação multifocal do sistema integrado de água
e clima.
- Interferências na dinâmica dos ecossistemas fluviais: em alguns trechos
são constatadas situações de superexploração de espécies da fauna aquática. A construção
de represas causou impactos nas migrações de peixes, em sua dinâmica biológica
e nas cadeias tróficas dos ecossistemas. A introdução de espécies exóticas,
como o “mexilhão dourado” acarreta impactos negativos sobre as barragens e açudes
de água.
- Padrões de desenvolvimento urbano em condições de
escassez de recursos e populações marginalizadas: que incide na falta
de tratamento de resíduos sólidos e de esgotos, que constituem fontes de
contaminação, com impacto no abastecimento de água para as populações. A grande
urbanização e a impermeabilização do solo geraram novos fenômenos de inundações
urbanas com efeitos catastróficos.
Embora estas problemáticas e as barreiras identificadas ocorram em forma
generalizada na Bacia do Prata e necessitem de ações a escala regional, essas
manifestações se identificam com particularidades em diferentes sub-bacias.
Bases para a Visão
A elaboração de uma Visão da Bacia do Prata compartilhada pelos cinco
países que a integram levou em consideração as recomendações das Metas de
Desenvolvimento do Milênio e o Relatório sobre Água para o Século
XXI: Da visão à ação - América do Sul, elaborado pelo Comitê Técnico Assessor
para a América do Sul da Associação Mundial da Água.